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É simples

Nós é que complicamos

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Respiremos fundo e voltemos à terra.

Sejam quais forem os nossos sentimentos, quem apoiamos, contra quem estivermos, seja o que for que esperemos, só há duas coisas sobre as quais agir: nós próprios e ajudar a imprimir à realidade em mudança as alterações que nos convêm.

Tudo o resto é ilusão ou, pior ainda, psicose de frustração.

Agir sobre nós próprios é o mais importante, não só em termos de formação e informação, mas também em termos de disciplina, condição física, camaradagem e crescimento.

A partir daí vem o resto, o que fazer e sobretudo como fazer. Temos de compreender perfeitamente que não é de frente que podemos abordar a realidade em mudança para nela intervir de forma positiva: tem de ser de forma natural.

Lembremo-nos da sabedoria de Nietzsche: “não é à volta daqueles que fazem grande alarido, mas daqueles que criam novos valores que o mundo gira silenciosamente”.

É assim que nos devemos relacionar, com serenidade. Expulsar as ansiedades, as lamentações, o derrotismo, o azedume, ou seja, tudo o que nos tira a leveza e a positividade.

Nesta crise de transição – que alguns insistem em imaginar ser uma crise do sistema, mas que não o é – surgem alguns elementos promissores, novos e inatingíveis, na medida em que são ditados pelas necessidades das coisas, necessidades que se impõem às próprias oligarquias.

Passo a resumir alguns deles.

A recuperação do drama e da tragédia.

Por muito que haja um excesso de sensacionalismo, um exagero que vai até ao medo da guerra nuclear, e – repito – independentemente do campo real ou imaginário que se prefira, há que registar três factos fundamentais.

1. O regresso da guerra à Europa, com a descoberta de que ainda há povos capazes de lutar.

2. O regresso ao imaginário quotidiano do conceito de guerra possível, com todo o debate sobre o serviço militar do futuro, o que implica automaticamente uma tendência contrária à desvirilização e um choque com a ofensiva woke, que já está a falhar comercialmente.

3. O regresso à ideia de uma Europa armada.

A realidade demonstrou que não é possível contar com os americanos e o debate na Europa, incluindo nos círculos da NATO, assenta cada vez mais nesta premissa, ao ponto de os atlantistas mais fervorosos se terem transformado subitamente nos principais críticos dos Estados Unidos. Não porque se tenham convertido, mas porque estão a responder a ordens estáveis baseadas na regra de que a melhor maneira de neutralizar uma oposição é liderá-la pessoalmente.

Desde a pandemia, o progresso vertiginoso das cadeias de abastecimento reintroduziu uma revisão das dependências globais e a recuperação de certas funções do Estado. Estas, libertas de uma retórica verbal porque foram concretamente postas em jogo, tiveram de encontrar uma declinação europeia; finalmente, todo o tipo de reforma em curso, em Itália como na Europa, vai em direcção a uma síntese promissora. Na medida em que até os eurocratas tiveram de aceitar a recuperação de valores nacionais a justapor aos federais, numa convergência significativa que talvez esteja ainda longe da necessária lógica imperial com pertinências confederais, mas que pela primeira vez exprime as premissas.

A própria Itália viu-se, quase de repente, a assumir um papel internacional de autoridade, não só na Europa, mas no multilateralismo, em particular em direcção ao Japão, à Índia e a África.

E não é só isso: algumas das fortes rivalidades que pareciam insuperáveis foram agora resolvidas. É o caso, nomeadamente, das relações entre a Itália e a França.

Entretanto, as tensões aumentaram ao ponto de reavivar velhos artifícios psicóticos.

O antifascismo, que roça a demência, mesmo que tenha pouca influência na opinião pública, tem o seu próprio potencial repressivo elevado, mas isso não é necessariamente um factor negativo, uma vez que produz selecção e induz a presença de cada um em si próprio. É bem-vindo, se for um despertar!

Por outro lado, a barulheira à volta da emergência do anti-semitismo já não parece ser capaz de mobilizar as massas. Digamos que, em Gaza, os bónus se esgotaram e, quem sabe, talvez seja de vez.

O perigo jihadista continua a ser objecto de jogos entrelaçados entre poderes, serviços, governos, mas acabará por actuar na mesma antropologia social, num futuro próximo, com os respectivos efeitos colaterais.

Restam problemas que parecem proibitivamente difíceis de resolver: na realidade, são apenas os que dizem respeito à demografia e às suas consequências directas e indirectas. Mas é preciso deixar de estar ansioso com tudo e pensar que tudo se resolve num piscar de olhos: é preciso ter um pouco mais de fé no destino e nos nossos genes.

O que implica também estabelecer uma nova relação com a tecnologia e a Inteligência Artificial (que, entre mil outras coisas, pode desempenhar um papel importante no preenchimento das carências demográficas). Isto não pode ser confiado a indivíduos meramente cerebrais, mas a seres humanos integrais.

Mens sana in corpore sano aplica-se também à utilização de tecnologias avançadas, que serão benéficas se estiverem nas mãos de filósofos-guerreiros.

Em todas estas encruzilhadas – que estão a um passo de nós – temos de chegar preparados, descondicionados, leves, sorridentes, sem peso, sem ansiedade, e com espírito de comunidade (não de grupos, paróquias ou guetos).

Raramente tivemos tantas oportunidades promissoras à nossa frente.

O único problema é estarmos à altura das circunstâncias. E para isso temos de nos dedicar incondicional e totalmente.

Comecemos: respiremos profundamente e regressemos à terra!

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