domenica 30 Giugno 2024

A onda

Não é a que eles temem, mas têm razão em temê-la

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Tremem, abanam, falam de uma “peste castanha” e das “horas negras de um triste passado que regressa”. Isso em si é belo, para tudo o resto existe o Mastercard*.

No entanto, a onda negra (ou castanha) não é a que temem os sacerdotes eunucos da deusa antifa, é simplesmente, como tão bem compreendeu o professor Giovanni Orsina, a exigência de realismo, de um regresso ao político, em rejeição das abstracções ideológicas e dogmáticas encarnadas por uma classe dirigente que há muito deixou de ter o dedo no pulso da realidade. E que, esmagada pela realidade, apela à defesa de “valores sagrados” para travar a rejeição colectiva que compromete as suas carreiras e a sua notoriedade.

Para já, a vaga que se levantou na Europa não é abordada, não é compreendida, não é mediada, não se encaminha para a síntese indispensável, entre poderes reais, interesses comuns, inovações e sentimentos populares. Uma síntese que se realizará, mas que ainda não existe.

Para já, o voto é o da exigência de um papel nas decisões da vida em comum. Depois, articula-se numa série de impulsos adolescentes, em tantas reivindicações absurdas, irrealistas, que juntam irracionalmente opostos, como a exigência de despesismo e de assistencialismo, a rejeição da imigração e a exigência de um renascimento do industrialismo.

Em Itália, em Espanha, em Portugal, na Roménia, em França, na Alemanha, na Grécia, estes protestos não têm muito em comum, a não ser a rejeição dos administradores profissionais, do pós-sessentaeoitismo e do casamento infame entre a lógica de gestão e a burocracia.

O melhor desta vaga não é apenas a condenação de uma classe política parasita, há muito incrustada em privilégios, mas sobretudo o facto de o protesto ser descomplexado.

Não têm medo de votar naqueles que são denunciados como fascistas, de dar mais de quinhentas mil preferências ao general Vannacci, que invoca a Décima**. Não têm medo de fazer chegar aos 16%, na Alemanha, um partido definido como nazi, que não tem nada de nazi, e que é um Cinco Estrelas com nostalgia da RDA que não promete nada de bom. Mas, à parte de considerações de mérito que não nos podem fazer simpatizar com a AfD, o facto de precisamente na Alemanha mais de um sexto dos eleitores não ter medo de ser “nazificado” tem um significado histórico.

Não há “perigo” fascista, nem aqui nem noutro lugar. Um sonho para alguns, um pesadelo para outros.

Não, não há. Não no sentido do triunfo do vilão da Sky, da Prime ou da Netflix (pois é esse hoje o imaginário fascista do antifascista médio, quase sempre inculto e doutrinado).

Também não há um programa político e ideal articulado e preciso.

Mais uma vez Giovanni Orsina, numa entrevista ao Figaro, sublinhou como a cola dos Fratelli d’Italia não é ideológica mas antropológica, de pertença a algo comum que precede a ideologia e pode até prescindir dela. De ideologia, não das linhas de fundo.

Ora, uma coisa é (ou foi) a Direita Radical que construiu um conjunto de pontos firmes para influir o futuro, outra coisa é a Direita Terminal que ideologizou, esquematizou, dogmatizou, uma série de disparates sociopáticos na rejeição adolescente de tudo o que a rodeia; uma terceira e bem diferente é (foi) o fascismo como ideia.

Esse sempre teve uma bússola, mas também a capacidade contínua de adaptação, de união, de mediação, de síntese, de reorientação.

Muito pouco ideológico e muito antropológico, uma força mercurial, modificadora, apolínea no seu ser dionisíaco, trazendo novidades ancoradas em princípios.

Nunca foi estática, dogmática, fossilizada, nem sequer auto-referencial: é uma força de síntese imperecível que se transcende a si própria e até às suas próprias formas e que se reafirmará em manifestações inéditas e ainda não definidas.

A onda negra não é negra? Provavelmente não é absolutamente nada. Mas isso é, em última análise, uma coisa boa.

Regozijo-me com esta expressão caótica de desejo, não me entristeço se já não estiver encerrada em grelhas incapacitantes, como as várias saídas de todos os géneros, números e tipos, que, por reflexos condicionados, fazem os “irredutíveis” pensar em sabe-se lá o quê que traiu. Mais uma vez, não é claro quem e o quê teria traído, a não ser que estejamos a falar das conjecturas fideístas anormais dos guetos.

A onda, em vez disso, anuncia um grande potencial que, além disso, os antifa não conseguem sequer compreender ou apreender e não podem impedir muito. O resultado desta dialéctica de forças entre a onda e as rochas decidirá em breve se e quanto terá tido impacto, e como.

Ainda não chegou o momento, porque, no interior da dinâmica, a síntese é certamente viável em Itália, talvez em Espanha, e depois expandir-se-á. Noutros lugares, como em França, acabará, mais cedo ou mais tarde, por ser oferecida directamente pelos fazedores de reis com um ramo de oliveira, para reparar equilíbrios instáveis, já bem avançados. A Alemanha só aceitará nesse momento, mas quando o fizer, fá-lo-á peremptoriamente.

Não sei quando é que esta onda conseguirá produzir a nova síntese, tanto no seu seio como em si mesma e tudo o que é necessário para regenerar os povos da Europa e a Europa no seu conjunto.

Mas de uma coisa tenho a certeza: só é possível evitá-la matando o nosso continente, e isso não acontecerá.

* Alusão ao anúncio da Mastercard em Itália, no qual o cartão de crédito pode realmente comprar tudo, excepto os grandes desejos que se realizam por si próprios.

** A Décima Mas é uma unidade militar italiana que realizou várias acções no mar contra a frota britânica e aderiu à República Social Italiana de Benito Mussolini.

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